quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Após 6 meses em Harvard, brasileiro vai ao Quênia ajudar empresários locais

Mariana Bomfim
Do UOL, em São Paulo
Ampliar

ONG britânica leva jovens ao Quênia para ensinar empreendedorismo8 fotos

1 / 8
A ONG britânica Balloon Kenya seleciona voluntários no mundo todo para ajudar empreendedores de Nakuru, no Quênia, a tirar suas ideias do papel e fazer suas empresas prosperarem; o programa de 2014 contou, pela primeira vez, com um brasileiro; clique nas imagens acima para ver mais Igor Macedo de Miranda/Arquivo pessoal
Há duas semanas, o brasileiro Igor Macedo de Miranda, 24, e o empresário queniano Anthoney Ebu foram ao restaurante de um hotel em Nakuru, a 160 quilômetros de Nairóbi, capital do Quênia. Eles queriam conversar com o responsável pela cozinha.
Ebu quer abrir uma empresa de criação de peixes e Miranda sugeriu que eles fossem a estabelecimentos locais para conhecer os potenciais compradores.
O queniano é um dos cinco orientados de Miranda por meio da ONG Balloon Kenya. O projeto britânico de empreendedorismo social seleciona jovens universitários ou recém-formados no mundo todo para ir ao Quênia. Durante seis semanas, os escolhidos ajudam pequenos empresários locais a desenvolver suas ideias de negócios.

Brasileiro trancou engenharia na USP e foi para Harvard

Primeiro brasileiro a participar da Balloon Kenya, que existe há três anos, Miranda conheceu o projeto por meio de um amigo que trabalhava em uma organização de promoção do empreendedorismo.
"Eu queria estar em um projeto de voluntariado que não fosse egoísta, do tipo que você passa um tempo e depois volta pra casa como se nada tivesse acontecido", diz. "Queria deixar resultados para trás."
Antes desse projeto, Miranda tinha pouca experiência em empreendedorismo. Estudante de engenharia mecânica pela USP (Universidade de São Paulo), ele trabalhou na área de finanças do banco J.P. Morgan por um ano. No final de 2013, trancou o curso e foi para a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, estudar estratégia de negócios.

Projeto escolheu mais de 20 jovens, que trabalham em duplas

Escolhido após participar de um processo de seleção, Miranda se uniu, em agosto, a outros 22 jovens do Reino Unido, França, Suécia, Chile, Somália, Serra Leoa e Zimbábue.
Os jovens passam por uma semana de treinamento e, depois, são separados em duplas. A parceira de Miranda é uma jovem somali. Além da piscicultura de Ebu, há ideias de negócios como a venda de roupas usadas para crianças, um comércio de frutas e abertura de uma loja de laptops.
"É ousado, porque computador é muito caro para as pessoas daqui", diz Miranda. "Mas estamos tentando descobrir uma forma de viabilizar a empresa."

Baixo poder de compra dificulta abertura de negócios

A baixa renda dos consumidores quenianos é um desafio para os negócios. Segundo o Banco Mundial, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita do país é de US$ 994, o 28º mais baixo do mundo. Para comparar, o PIB per capita do Brasil é de US$ 11.208.
Esse não é o único problema que os jovens consultores e os empreendedores precisam resolver. "O país tem limitações de crédito, de infraestrutura e de qualificação profissional", diz Miranda.
Além de ajudar os quenianos a lidar com o ambiente de negócios carente, os consultores dão orientações. Por exemplo, sobre a importância de separar as finanças pessoais e as da empresa, e de testar as ideias antes da sua execução.
"Muita gente perde tempo e dinheiro tentando provar que sua ideia é fantástica e seu produto é revolucionário", diz Miranda. "Em vez dessa suposição, orientamos os empresários a conversar com as pessoas e descobrir o que elas querem". Foi esse o motivo da visita dele e de Ebu ao restaurante.

Trabalho voluntário é valorizado no mercado de trabalho, diz especialista

Para Graziella Comini, coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FIA (Fundação Instituto de Administração), a escassez de recursos com a qual Miranda precisa lidar pode fazer com que ele desenvolva competências importantes relacionadas ao planejamento e ao foco em resultados.
"Toda atividade voluntária faz o profissional desenvolver competências úteis para o mercado de trabalho", afirma. "Ele aprende a identificar oportunidades de negócios e a pensar em novos produtos que, além de gerar lucro, tenham valor para a sociedade."
Antes de ingressar em um projeto de empreendedorismo social, contudo, é fundamental verificar as informações oferecidas pela organização e se certificar de que ela é séria.
"Converse com pessoas que conheçam a fundo o projeto, obtenha o máximo de dados possível e tenha certeza de que você se interessa genuinamente pelo tipo de trabalho", aconselha Comini. 

Nenhum comentário :

Postar um comentário