sábado, 10 de janeiro de 2015

Brasil pode alimentar população até 2040 com desmatamento zero.


"O Brasil já possui áreas agrícolas e pecuárias suficientes para absorver a maior expansão de produção agrícola do mundo nas próximas três décadas”, diz Bernardo Strassburg, diretor-executivo do IIS.

Prover alimentos e outros produtos para uma população mundial em crescimento ao mesmo tempo em que protege os ecossistemas é um grande desafio científico, social e político da atualidade. E, sobre esse problema, um grupo de estudo coordenado pelo professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Puc-Rio) e diretor-executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade (IIS), Bernardo Strassburg, desenvolveu um material que afirma que o Brasil pode alimentar a sua população até o ano de 2040 sem derrubar uma árvore sequer.
O estudo, realizado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) e publicado no periódico Global Environmental Change, mostrou que uma melhor utilização de áreas já dedicadas à pecuária pode conciliar uma expansão expressiva da agropecuária nacional com desmatamento zero.
“Nossas análises mostram que o Brasil já possui áreas agrícolas e pecuárias suficientes para absorver a maior expansão de produção agrícola do mundo nas próximas três décadas, sem precisar desmatar um hectare adicional de áreas naturais”, afirmou Bernardo Strassburg em matéria publicada no site do IIS. De acordo com o coordenador do estudo, a chave é um aumento de produtividade das áreas de pastagem. “Hoje utilizamos apenas um terço do potencial das nossas pastagem, e se passarmos a utilizar metade deste potencial, em 30 anos conseguiríamos aumentar em 50% a produção de carne e liberar 32 milhões de hectares para outros cultivos como a soja e florestas plantadas.”
Ainda de acordo com Strassburg, se 70% do potencial for alcançado, seriam liberados outros 36 milhões de hectares para recompor áreas nativas, que, como afirma o coordenador, “são tão importantes para garantir a provisão de água e outros serviços ambientais que sustentam o próprio agronegócio, a produção de energia e a economia brasileira.”
PLANEJAMENTO
Para Agnieszka Latawiec, diretora de pesquisas do Instituto Internacional para Sustentabilidade que também participou do estudo, o aumento da produtividade da pecuária no Brasil exigirá esforços significativos. De acordo com ela, entre esses esforços estão um planejamento territorial integrado, oferta de linhas de crédito compatíveis com a pecuária, de preferência com assistência técnica integrada. “Estes podem ser caracterizados como um grande desafio.
No estudo, entretanto, mostramos que esse aumento é possível e que poderia contribuir para resolver uma variedade de problemas socioambientais, aumentar a renda do produtor, diminuir a pobreza rural e fixar o homem no campo, resultando em um setor agrícola mais sustentável no Brasil”, afirma. Por outro lado, tal iniciativa também apresenta riscos: “É imprescindível que uma política de aumento de produtividade – e, portanto, do lucro – na pecuária seja acompanhada de esforços complementares para evitar um impulso por mais desmatamento”, completa Bernardo Strassburg.
ESTUDO
A intensificação sustentável da produção em terras atualmente agricultáveis já foi sugerida como uma solução para a competição por terra entre a agricultura e ecossistemas naturais, no entanto, de acordo com os autores do estudo, poucas pesquisas têm mostrado a medida em que essas terras podem atender às demandas projetadas, ao considerar restrições biofísicas. “Aqui investigamos o uso de terras agrícolas existentes e apresentamos ideias sobre como evitar futura competição por terra”, afirmam os estudiosos no resumo do trabalho.
Ainda de acordo com os autores, a pesquisa é focada no Brasil por ser o País que, segundo projeções, deve ter o maior aumento de produção agrícola nas próximas décadas. Além disso, o Brasil também é a Nação mais rica em biodiversidade. “Usando diversos modelos e conjuntos de dados climáticos, chegamos à primeira estimativa da capacidade máxima dos 115 milhões de hectares de pastagens. Então, investigamos se o uso melhorado de pastagens liberaria terra suficiente para a expansão de carnes, diversas culturas, madeira e biocombustível, respeitando restrições biofísicas – tais como terreno e clima – e incluindo impactos climáticos”, explicam os autores.
O grupo coordenado por Strassburg concluiu, então, que o Brasil ainda tem grande potencial sem a necessidade de desmatamento. “Concluímos que a atual produtividade de pastagens brasileiras cultivadas está entre 32% e 34%, e que um aumento da produtividade para entre 49% e 52% do potencial já seria o suficiente para corresponder à demanda por carne, culturas diversas, produtos originários da madeira e biocombustíveis até, no mínimo, 2040, sem mais nenhuma conversão de ecossistemas naturais.”
Ainda segundo os pesquisadores, o fato de que o Brasil está prestes a sofrer a maior expansão da produção agrícola das próximas décadas e pode fazer isso sem que haja prejuízos para habitats naturais, leva à questão: Será que o mesmo pode acontecer em outros contextos regionais? E mais: Seria possível em uma escala global?

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