terça-feira, 22 de abril de 2014

O que aprender com a crise hídrica no início de 2014?


Após vivenciarmos um verão atípico, o mais quente e seco em sete décadas, São Paulo, a maior cidade do país e da América do Sul, vive um momento de crise hídrica que poderá gerar instabilidade social, política e econômica.




Reservatório da Cantareira.

Pela primeira vez, a questão ambiental escancara com clareza a fragilidade de um sistema que não priorizou a água no seu modelo de desenvolvimento, ou se priorizou, não foi suficiente.

E isto não deve unicamente a variabilidade do clima, embora seja este um dos fatores principais do processo. A concentração da população nos grandes centros urbanos gerou uma demanda de recursos naturais maior do que a capacidade de atendimento do espaço em que está locada. Isto fez com que a região metropolitana de São Paulo ficasse dependente da importação de recursos de outras localidades, que é o caso da água.
E porque chegamos a este momento crítico? Pergunta simples com resposta complexa. Existe a variabilidade normal do clima; os impactos das mudanças climáticas; o aumento desorganizado do consumo pressionado pelo crescimento urbano acelerado da região metropolitana; a alta temperatura do verão mais quente e mais seco das últimas sete décadas; a falta de consciência da população; as perdas de 25% na rede de distribuição (em Tóquio a perda de água tratada é de 3,6%); a falta de políticas públicas para o reuso e captação da água da chuva em novos prédios e o incentivo para adoção de relógios individuais nos novos e antigos prédios; a falta de planejamento e de investimentos em infraestrutura para construção de novos reservatórios; a extinção das minas e nascentes nas pequenas propriedades rurais com os desmatamentos e avanço da agricultura e pecuária; a evaporação da água do reservatório em épocas quentes; e mais uma dúzia de situações que interferem neste processo.
Todos estes fatores podem ser citados e certamente a somatória deles causou a situação atual. Mas um fato que não pode ser citado é o desconhecimento dos governos responsáveis em relação a todos estes fatores.

Conflitos de interesse

E os problemas não param por aí. A água que abastece o Sistema Cantareira vem de outras regiões que também estão sofrendo com a escassez das chuvas. Muitas cidades abrigam grandes empresas que utilizam a água em seus processos produtivos. Além de afetar o consumo humano, afetará também a economia local.
A outorga atual do Sistema Cantareira vence em agosto de 2014 e certamente terá conflitos de interesse na renegociação. O estado do Rio de Janeiro é contra o projeto de São Paulo de captar água do rio Paraíba do Sul e levá-la ao Sistema Cantareira. O problema é que este rio já abastece outras 15 milhões de pessoas na Grande Rio e no interior paulista. Está em curso um conflito de grande proporção, envolvendo os dois estados mais ricos da federação e o abastecimento de aproximadamente 15% da população do país. É ou não é um assunto urgente que traz a tona um fundamento relevante para o equilíbrio social, político e econômico, e até então invisível para a maioria da população? A disputa pela água pode chegar aos tribunais brasileiros.

Sobre o Sistema Cantareira

O Sistema Cantareira trata 33 mil litros de água por segundo e teve início nos anos 60. Trata-se de um dos maiores sistemas produtores de água do mundo. As seis represas que compõem o complexo estão em diferentes níveis e são interligadas por 48 km de túneis para aproveitar os desníveis e a acumulação de água por gravidade. O Sistema Cantareira abastece aproximadamente 55% da Região Metropolitana do Estado de São Paulo com padrões de qualidade superiores aos exigidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Quatro reservatórios dão origem ao Sistema: o primeiro fica na cidade de Bragança Paulista e é alimentado pelos rios Jacareí e Jaguari, cujas nascentes estão localizadas em Minas Gerais. Neste reservatório são armazenadas 22 mil litros de água por segundo; o segundo reservatório armazena 5 mil litros/segundo do rio Cachoeira de Piracaia; o terceiro na cidade de Nazaré paulista armazena 4 mil litros/segundo, do Rio Atibainha; e na cidade de Mairiporã, a quarta barragem tem 2 mil litros/segundo do Rio Juqueri, formada pela barragem Engenheiro de Paiva Castro, e com nível de 745 metros, é capaz de fornecer 2 mil litros de água por segundo. Existe ainda, uma represa de segurança a 860 metros e denominada Águas Claras. Caso haja alguma paralisação, é possível manter o sistema em pleno funcionamento durante 3 horas.
Até aqui, a água percorreu aproximadamente 48 km através de tubos e canais por gravidade e chega ao pé da Serra da Cantareira, na Estação Elevatória Santa Inês, onde é elevada por bombeamento a 120 metros de altura para o Reservatório Artificial de Águas Claras. Segue então para a Estação de tratamento de Água do Guaraú, onde começa a ser tratada, produzindo 33 mil litros de água por segundo, para abastecer cerca de 8,8 milhões de pessoas da Região Metropolitana de São Paulo, saindo em ótimas condições de consumo.
Fonte: DAE-SCS-SP (grifos meus).

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